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Apresentação de novos projetos

Cinco artistas com percursos distintos apresentam seus novos e instigantes projetos artísticos: Miroir Claude, de Márcia Nemer da decepção do futuro quando este se torna presente; Movimentos em Apineia, de Flávia Pinheiro busca desaprender os gestos coloniais; Yurugu, de Yhuri Cruz, nos leva ao Mali e apresenta esse título-conceito que na cultura Dogon define o estado espiritual do colonizador europeu em continente Africano; Interfaces Relacionais, de Thiago Salas, expande as fronteiras da música e chega até nós como uma performance sonora; e Dos modos de nos comportarmos no teatro, de Luiz Pimentel revela costumes do público em épocas passadas, borrando fronteiras entre cena e público e lançando questões especialmente curiosas e pertinentes ao momento que estamos vivendo, ao futuro ainda embaçado, aos novos modos de assistirmos aos espetáculos.

Estes artistas foram os finalistas no processo que selecionou a Márcia Nemer para fazer uma residência artística em Paris – uma realização do Brasil Cena Aberta em parceria com a Cité Internationale des Arts, a Prefeitura de Paris e o Consulado da França em São Paulo.

Apresentação: Lieven Bertels | The Momentary (EUA)

Dinâmica: cada artista tem 5 minutos para apresentar seu projeto. Depois de cada apresentação temos 5 minutos para os artistas responderem às perguntas do público presente.

Miroir Claude é um projeto teatral sobre a decepção de um futuro idealizado e esperado quando este se torna presente. Por algum tempo o mundo parecia andar para frente. A humanidade parecia melhorar, aprendendo com seus erros do passado e avançando. Mas em algum momento tudo mudou para pior. O futuro está aqui e apenas repete os erros do passado. Não temos carros voadores e uma sociedade justa, mas sim fascistas e pandemias de gripe. Eu venho pensando há algum tempo em como transformar esta sensação, de uma saudade de um futuro imaginado e antecipado que se transforma em um presente de desapontamento, em uma performance teatral. A pesquisa parte do pressuposto de que este não é um sentimento novo. No passado muitos já sentiram esta nostalgia do futuro, e lidaram com essa conexão entre expectativas e realidades insatisfatórias artisticamente. 3 ideias do sec. XIX servirão de base de pesquisa para essa residência: Miroir Claude, um pequeno espelho que era levado até atrações turísticas e paisagens e onde a realidade era refletida de forma mais pitoresca. As pinturas em Panorama que representavam em 360º a cidade não como ela é, mas como ela era em um passado idealizado. E, finalmente, a Síndrome de Paris, a decepção que nasce da constatação de que a Paris real não corresponde à expectativa de Paris. Pretendo me lançar nesse desconhecido, e desenvolver um novo trabalho partindo destes 3 conceitos, sem saber ao certo qual o resultado a que chegarei. Acredito que esta coragem de abraçar as incertezas é a base da verdadeira experimentação teatral.

Márcia Nemer é diretora, atriz e dramaturga. Suas criações habitam o limiar entre o teatro, a performance e as artes plásticas, em trabalhos que atravessam linguagens artísticas criados em conjunto com os artistas do coletivo bobik & sofotchka. Mestre em Teatro pela Goethe Universität Frankfurt, onde foi orientada por Hans-Thies Lehmann, trabalhou como assistente direção para diretores como Thomas Ostermeier, Christoph Marthaler e Antunes Filho, entre outros. Após retornar da Alemanha ingressou no CPT, entrando em cartaz com a coletânea de cenas “Estações“ coordenada por Antunes Filho. Trabalhou como atriz com diretores como Stephan Seidel, Uwe Mengell, Kathleen Witt e Vincent Macaigne.

Como diretora seus trabalhos mais recentes são: O sono da razão, espetáculo teatral interativo para 1 espectador por vez, desenvolvido durante residência artística no Teatro do Centro da Terra em São Paulo em 2019. E, com um beijo…eu morro (2018), em que todas as mortes de todas as peças de Shakespeare são encenadas em um jogo que nunca se repete. Descrição de imagem/estudo de paisagem (2016), uma encenação do texto de Heiner Müller que explora os limites do trabalho do ator. Em 2020 ensaia Titus Andronicus– O Rosto da Guerra, montagem da tragédia de Shakespeare com elenco totalmente feminino. Paralelamente, Márcia Nemer atua como formadora convidada na SP Escola de Teatro no curso de dramaturgia e, desde 2018, faz a curadoria do grupo de estudos de teatro DRAMATIK! no Instituto Goethe- SP. Em 2020 foi escolhida como artista residente pela Citè des Arts Paris e Brasil Cena Aberta com o projeto “Miroir Claude”, a ser realizado em 2021.

Yurugu é um termo da cultura Dogon, do Mali (África Ocidental), que se refere aos espíritos de caos que vivem entre humanos e os demais espíritos. Ele é também o nome de um conceito elaborado pela antropóloga afro estadunidense Marimba Ani para se referir à forma como os nativos da sociedade Dogon se referiam ao estado espiritual do colonizador europeu em seu empreendimento genocida em continente Africano.

Yhuri Cruz é artista visual e escritor, nascido em Olaria (subúrbio do Rio de Janeiro), oriundo de família de matriz africana. Graduado em Ciência Política (UNIRIO) e pós-graduado em Jornalismo cultural (UERJ), seu trabalho consiste em promover a intersecção entre sua herança ética e estética familiar, a crítica decolonial e esferas privilegiadas e transgressoras do campo artístico. Desenvolve sua prática a partir de criações textuais e visuais envolvem inovações narrativas relacionadas com sua cosmogonia familiar (relacionada a Umbanda), proposições instalativas e performativas – que o artista chama de cenas. O artista utiliza aspectos da memória coletiva e individual, compreendendo a categoria de memória ligada aos sustos e assombrações íntimas, como fantasmas que atravessam o tempo e o espaço e constroem as formas canônicas e dissidentes de subjetividades e de sociabilidades. Cruz ganhou o IV Prêmio Reynaldo Roels Jr. com o projeto “O Cavalo é Levante (Monumento à Oxalá e ao trabalhador) foi indicado ao prêmio Pipa em 2019, no mesmo ano ele realizou sua primeira individual no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica- Rio de Janeiro/ RJ. Em 2018 ele realiza ‘Monumento a Presença” no Parque Lage, bem como participou da X BIENAL INTERNACIONAL DE ARTE SIART BOLIVIA – LOS ORÍGENES DE LA NOCHE, Museo Nacional de Arte, La Paz, Bolívia.

Dos modos de nos comportarmos no teatro é um projeto que visa a criação de uma instalação cênica que embaralhe as fronteiras entre cena e público, além de colocar em diálogo temas referentes às relações entre o teatro e a história do Brasil. O espaço da instalação é ativado pelos proponentes e pelo público participante a partir da leitura de uma dramaturgia-jogo composta por materiais de arquivo, trechos ficcionais, ações audiovisuais e outros tipos de textualidades produzidas em presença ao longo de cada apresentação. Há alguns anos o artista investiga arquivos do teatro brasileiro buscando recolher episódios de escândalos acontecidos nos interiores dos teatros nacionais.

Um dos seus focos de interesse é a espantosa prática da pateada, extinta nos dias de hoje, que consistia no bater de pés das plateias de modo a impedir que a cena chegasse ao fim. Patear, no Brasil, chegou a ser um modo com que pessoas marginalizadas podiam se manifestar nas plateias. Um dos motivos de seu desaparecimento foi a entrada da polícia nas salas de teatro, assim como a criação de uma série de regras sobre os modos como o espectador (e também o artista) deve se comportar nos teatros. A dramaturgia do projeto também traz a instituição policial para dentro desse debate, aproveitando sua presença nos teatros para pensar sua ação de modo alargado na formação do país.

Dos modos de nos comportarmos no teatro enseja conferir protagonismo à ação do público diante do acontecimento teatral, retomando algo da força, violência e alegria presente nas descrições de noites de apresentações onde aconteciam intervenções policiais, pateadas, escândalos e tensões na relação entre cena e público.

Luis Pimentel é ator, dramaturgo, roteirista e pesquisador. Seu trabalho artístico, tanto individual quanto nas parcerias estabelecidas, lida com proposições cênicas a partir do encontro entre modos de se conceber a escrita, o teatro (jogo, ficção e relações entre cena, texto e público), a educação, as visualidades (fotografia e instalação) e o cinema. Atualmente, concentra seus interesses na proposição de formas artísticas que levam arquivos históricos para a cena de modo a propor espaços de criação coletivos que friccionem a história como motor de deslocamento em relação ao tempo presente. Interessa-se pela elaboração de dramaturgias/roteiros/programas performativos que possam ser ampliados no espaço, como instalações cênico-textuais a serem experimentadas junto ao público. Participou do coletivo teatral [pH2]: estado de teatro e do projeto Ensaios ignorantes. No campo audiovisual, realizou dois filmes: O lugar mais inútil (2017, direção, roteiro e edição), junto a Juliana Jardim e Miguel Prata e O rosto da mulher endividada (2015, roteiro), que foi selecionado para a mostra de curtas do Festival de Tiradentes. Em 2020, desenvolve o roteiro do filme Quando eu morrer, tudo continua aqui, junto ao cineasta Renato Sircilli. No campo das Artes Visuais, realizou, em 2018, a instalação cênica Um dia todxs nós seremos arquivo na CASA 1, centro de acolhimento LGBT localizado no centro de São Paulo e, em 2019, junto com a artista Juliana Jardim, a instalação Não se trata de curar: 133 conselhos. Nessa criação, ambos os artistas traduziram do francês o livro Semente de Crápula de Fernand Deligny e o ampliaram dentro de uma sala do Complexo Hospitalar do Juquery em Franco da Rocha.

O projeto coloca em primeiro plano a tormenta do corpo em movimento que busca desaprender os gestos coloniais, esquecer o disciplinamento e dar lugar para aquilo que não está. Ao reconhecer como uma vida que está predestinada à morte entre as chamadas epistemologia do sul, evoca os elementos fantasmagóricos para explicar esta angústia invisível. Esta maldição permite o surgimento de uma prática que ainda não nasceu.

Tentativas de sobreviver na apneia ou Como não morrer em apneia? tem como objetivo explorar arquivos, imagens, práticas, coreografias, composições, scores, técnicas e documentos para fazer emergir uma dança que foi apagada, negada, silenciada, violentada.

A pesquisa foca a atenção naqueles que ainda não nasceram e investiga tecnologias de comunicação com o invisível, fantasmas, através do ruído branco, e tentam recuperar do fundo do Oceano Atlântico aquilo que está por vir.

Dividida em três partes : The human condition (arquivos), The unborn (técnicas e memórias futuras) Abiku( fantasmas, macumba, espíritos) cada momento coincide com uma residência de criação e um compartilhamento público do processo.

Flavia Pinheiro é performer, coreógrafa residente em Recife. Seus trabalhos envolvem o corpo em movimento em relação a diferentes dispositivos. Investiga as relações de força e poder do neoliberalismo hegemônico corporeificadas pelo intensivo treinamento para o fim do mundo e os limites de resistência na criação de imagens, programas de perfomance, instalações, vídeos e intervenções urbanas com um único objetivo: Dançar para não morrer! Mestre em História da Arte da UNSAM-Universidad de San Martin/ Argentina, é pós – graduada em Artes Visuais-Linguagens Artísticos Combinados no UNA/ Argentina, graduada em Artes Cénicas na UFPE. No ano de 2017 iniciou a sua formação como terapeuta corporal – BMC Body Mind Centering. Foi premiada com a Bolsa Funarte para Formação em Artes Cênicas 2016/2017, estudando no Centre Nacional de la Danse CND/Pantin na França. Participou do Circuito Palco Giratório do SESC em 2018 com as perfomances Como manter-se vivo? e Contato Sonoro.

Alguns de seus experimentos pseudo-científicos se verticalizam nas tecnologias do corpo. Aprofundam a obsolescência programada construída com base nos padrões de comportamento humano em relação às gambiarras, os dispositivos analógicos, a falha, o erro e a catástrofe.

Atualmente investiga in vitro as bactérias no contexto insalubre da cidade do Recife: uma série de procedimentos de imagem e performance na luta contra os antibióticos. Realiza também a Performance Parlante Antílope junto ao artista sonoro Yuri Bruscky. Desenvolve a pesquisa Ruínas de um futuro em desaparecimento que quase estreiou; mas devido à pandemia foi adiada para depois do fim do mundo. Sua exposição Abismos de um corpo que falha premiada pelo Edital de Residências Artísticas da Fundação Joaquim Nabuco FUNDAJ colapsou. A artista insiste na distopia de hackear a existência

Interfaces relacionais – gesto-som

A apropriação dos conhecimentos da eletrônica para a construção de dispositivos é um recurso de criação que vem se intensificando desde meados do século passado. Artistas têm recriado constantemente seus próprios meios de realização musical através de saberes que emergem da aproximação entre áreas como a física, a eletrônica e suas implicações ao sonoro. Neste encontro entre música e tecnologia, se expande o pensamento acerca dos sons em um âmbito temporal para uma vertente que considera o espaço como tema a ser explorado. São muitas as análises e formas de pensar que consideram desde o renascimento algo na música que se alocada como possibilidade espacial no campo da técnica, relacionado às construções arquitetônicas e no campo da poética, trazendo o olhar/ouvido ao que o compositor conjuga na situação de determinado espaço acústico. Porém, é claro também uma expansão das possibilidades de criação com sons na consideração de um espaço como meio fundamental para algumas criações plásticas que atravessam sons, imagens e movimentos.

Thiago Salas possui graduação em música pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR e mestrado em sonologia pela Universidade de São Paulo – ECA-USP. Trabalha com criação intermídia com pesquisa acerca das relações entre o gesto e as tecnologias atuais. Realizou trilhas sonoras e direção musical para Cias de Teatro e Dança Contemporânea. Desenvolve pesquisa e criação artística junto ao APT.LAB em um trabalho transdisciplinar contando com colaboração de artistas e pesquisadores de diversas áreas.

Lieven Bertels é o Diretor do Momentary, um projeto de reutilização adaptável que transformará uma fábrica de queijo desativada ao sul de Crystal Bridges em um espaço multidisciplinar para artes visuais e performáticas, experiências culinárias e artistas residentes. Nessa função, Bertels é responsável por todas as atividades relacionadas ao Momentory, incluindo o planejamento e desenvolvimento da instalação, bem como a direção artística e as operações do dia-a-dia.
Antes de ingressar no Momentary, Bertels foi CEO e diretor cultural da Leeuwarden-Fryslân 2018 Capital Europeia da Cultura, um festival de um ano na Holanda com foco nas artes em um contexto rural. De 2011 a 2016, ele foi o diretor do festival de Sydney Festival na Austrália. Sob sua direção, o Sydney Festival foi aclamado por suas diversas ofertas artísticas e teve amplo apoio público. De 2010 a 2016 ele atuou no conselho de diretores da International Society for the Performing Arts em Nova York e, em 2013, foi nomeado Cavaleiro da Ordem da Coroa da Bélgica.
De 2004 a 2011, Bertels atuou como coordenador artístico no Holland Festival em Amsterdã, o maior e mais antigo festival de artes da Holanda. De 2001 a 2004, Bertels ocupou o cargo de diretor artístico inaugural da Concertgebouw em Bruges, Bélgica, onde foi responsável pela supervisão do planejamento, grande inauguração e programação para os primeiros três anos do novo campus.

Atividades somente para inscritos na Área Profissional
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